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Travessia Arraiolos - Alburitel - Arraiolos - 2 dias | 300 km | 2300 m D+

13 e 14 de Junho 2012

Escrevo este texto à distância de dois anos, em Junho de 2014.

Esta aventura foi a minha primeira Travessia a solo. A ideia era já antiga, mas várias vezes adiada, mas desta vez consegui disponibilidade de tempo e uma motivação extra, para vencer o medo e quebrar barreiras psicológicas.

Dia 13 de Junho é o dia de aniversário do meu Pai, e estando eu a trabalhar a 150 km de distância, com a bicicleta perto e com 2 dias de folga, resolvi fazer-lhe uma surpresa, aparecer para fazer companhia ao almoço e dar um beijinho de Parabéns.

No dia antes informei a minha mãe, para contar comigo para o almoço. Claro ela como conhece o filho louco que tem perguntou logo como é que eu ia, mas acho que já sabia a resposta. Foi daquelas perguntas apenas para confirmar e para dar aquelas recomendações do costume: "Tu vê-lá, vem com cuidado"; "Liga-me durante a viagem", depois em jeito de desabafo: "Oh que doido este!".

6h00 toca o despertador, levantei-me, tomei um pequeno almoço reforçado, despachei-me nas calmas e às 6h50 estava a sair de casa para ir almoçar com o meu Pai. Escolhi o trajeto mais difícil, mas o mais bonito, e claro aproveitei para desfrutar ao máximo da mítica N2, aquela que é a mais longa estrada de Portugal, que liga Chaves a Faro.

Fiz o troço da N2 de Mora até Abrantes, tinha algum receio por não ser este o caminho que fazia habitualmente. Depois da barragem de Montargil e até Ponte de Sôr, lembro-me que apanhei algum vento de frente, mas nada de muito assustador.

Fiz paragens regulares para comer e para dar notícias à minha mãe a informar como estava a correr a viagem.

Em Abrantes começaram as subidas, primeiro para a cidade e depois a caminho de Martinchel, perto da Barragem de Castelo do Bode, tinha muita curiosidade em fazer esta última subida e melhor ainda depois de ter 100 km nas pernas, no topo, ainda antes de Martinchel e apesar da distância, consegue-se avistar Alburitel. É uma sensação muito fixe, estou quase a chegar, mas ainda faltam 40 km, que diga-se passaram bastante rápido com a ânsia de chegar à hora de almoço.

Consegui chegar a casa 2 minutos antes do meu Pai, até fico impressionado com a minha capacidade de previsão da hora de chegada numa distância destas e com um meio de locomoção a pedal, se calhar foi sorte!

Cheguei quando toda a gente, incluindo os meus tios que ficaram admirados de me ver chegar de bicicleta diretamente de Arraiolos no Alentejo. O meu tio diz ao meu Pai: "Por esta é que tu não esperavas?" ao que o meu Pai responde: "Não esperava, mas não fico surpreendido, sei o filho que tenho."

O almoço já não me lembro o que foi, mas sei que comi bem, à tarde fui para a minha casa dormir. No dia seguinte ia regressar a Arraiolos.

14 de Junho, dia de regresso a Arraiolos, desta vez pelo itinerário que costumava fazer de carro.

6h30, hora de levantar, tomar o pequeno almoço e às 7h20 estava a sair para a estrada a caminho de Arraiolos. Sai em direção a Torres Novas, Chamusca, Ulme, Foros do Arrão, Montargil (N2).

Desta vez não tinha ninguém à minha espera para almoçar, fiz a viagem mais descontraído, com algum receio devido ao cansaço acumulado. Ao fim de 100 km fiz a última paragem para comer e descansar um bocadinho.

Quando voltei à estrada olhei para o GPS e comecei a fazer contas de cabeça para prever a hora de chegada, no meio dessas contas comecei a vislumbrar a possibilidade de fazer menos tempo que no dia anterior. Fiz os últimos 50 km sem paragens e em contra relógio para bater o tempo do dia anterior. Não o bati, fiz mais 1 minuto e 6 segundos, mas no tempo total consegui fazer menos 2 minutos e 11 segundos.

Os percursos apesar de diferentes em 100 km, o segundo teve mais 800 metros e menos 150 metros de desnível acumulado.






Circuito NGPS - Rota do Mel - Mondim de Basto 85 km | 2460 m D+

27 de Maio 2012

9h00, lá fui fazer mais um teste à roda 29er, desta vez em Mondim de Basto na Rota do Mel. O dia estava nublado. Este passeio caracteriza-se pelo seu baixo custo, ambiente descontraído, sem tempos nem classificações e com um percurso integralmente guiado por GPS, sendo disponibilizados 3 percursos, um de 15 km, outro de 50 km e o maior de 85 km.


A partida foi dada com um ligeiro atraso e de forma descontraída. Saí com um andamento moderado a acompanhar o grupo da frente. Ao fim de 3 km paragem para a famosa prova do Mel, no Mondim Aqua Hotels. Após esta breve paragem, lá continuei viagem, iniciando a navegação fora de estrada. No início houve alguns erros de leitura do GPS, quer meus, quer de outros companheiros que seguiam no grupo.
Fiquei impressionado com o número de participantes que se aventura num passeio destes sem GPS, seguindo na roda de outros betetistas. Quando começámos a subir, na primeira inclinação digna desse nome, segui na companhia de um parceiro, na sua Epic, que estava sem GPS. No primeiro ponto de controlo, fizemos um desvio para ver uma candidata às 7 Maravilhas da Natureza, as Fisgas de Ermelo, onde fizemos uma breve paragem para comer, recuperar e contemplar a paisagem. Seguimos depois até  à aldeia de Ermelo, onde eu segui o percurso dos 85 km e o meu parceiro esperou por nova boleia para completar o percurso de 50 km.


Estávamos com 30 km percorridos, segui a solo quase até final, passando por paisagens magníficas e lugares isolados onde os cães dormem na estrada. Passagem por lugares como Varzigueto e Bilhó, percorrendo entre estes single tracks inóspitos e de difícil acesso, tornando a sua beleza ainda mais exclusiva.


Já perto do final, a cerca de 20 km da meta, encontrei 3 companheiros parados por uma avaria mecânica, drop out partido, parei mas o problema estava resolvido. Já com o Monte Farinha à vista, segui até ao cimo da Sra. da Graça, para depois regressar a Mondim de Basto, por estrada, a grande velocidade, tirando o máximo partido da roda 29er.

Rota de Santa Marta - Gondemaria 50 km | 1250 m D+

Troféu de BTT de Ourém

20 de Maio 2012


Dia frio e chuvoso, lá nos encontrámos no sítio combinado. Quatro resistentes para enfrentar um desafio que se adivinhava molhado e com muita lama à mistura. Chegámos ao local da prova e a chuva deu umas tréguas enquanto fomos ao secretariado e preparámos as bikes.
Às 9h15 foi dada a partida para estes 50 km. Saída rápida em alcatrão ate entrar nos trilhos. Logo nos primeiros km de lama percebi que a escolha do pneu traseiro não tinha sido a melhor, mas a preguiça de o trocar no dia anterior falou mais alto. Os primeiros km foram um verdadeiro arraial de lama, onde o material começou a dar de si e a progressão era muito lenta e difícil, mesmo com a bicicleta ao lado.



Apesar da chuva que ia caindo, o tipo de terreno foi-se tornando progressivamente mais rolante, com single tracks muito bons, mas que apresentavam algum perigo, devido ao piso escorregadio. Após algumas quedas, as quais perdi o conto, lá fui progredindo até à meta, eu e a minha Stumpjumper 29er, umas vezes ela levava-me, outras levava-a eu.
Esta foi sem dúvida a prova em que mais andei com a bicicleta à mão, mas lá conseguimos chegar à meta em 15º lugar da geral.

Portalegre - Maratona de BTT 100 km | 2175 m D+

05 Maio 2012


6h00, saída de Arraiolos em direção a Portalegre, chegada às 7h00. Comer, colocar a bike na partida, para efetuar o controlo zero e aguardar pela partida às 9h00.


Partida à hora certa, com os primeiros km em alcatrão para alongar o pelotão e evitar os engarrafamentos na entrada dos trilhos.


Por volta do km 20 passaram por mim dois companheiros do pedal conhecidos, segui com eles, mas um deles acabou por ficar para trás. Seguimos então os 2 que restávamos a bom ritmo. Fomos conversando sobre novos projetos a pedal e outros já concretizados. Continuamos juntos até por volta do km 70, onde passei para a frente e mantive um ritmo intenso. A partir daqui começámos a passar por colegas já em grande sacrifício. Fomos sempre a passar gente até à meta. Nos últimos 5 km tive a companhia de um betetista que me perseguiu até ao final, sempre a grande velocidade nos trilhos finais e já dentro de Portalegre.


A parte final foi feita com grande dose de adrenalina e loucura à mistura, originando uma chegada em êxtase, com a sensação de dever cumprido em pouco mais de seis horas.

Fotos retiradas do site: BTT-TV

Uma bicicleta com brinde


Sexta feira, 4 de Maio recebo a aguardada chamada, antes do previsto, para combinar a entrega da nova bicicleta (em 2ª mão, mas a estrear para mim). Uma Stumpjumper 29er Comp de Aluminio, modelo HT de 2011. A bicicleta trazia um brinde, uma inscrição na Maratona de Portalegre (5 de Maio).
Não podeira haver melhor teste para a nova bike. Às 22h lá fui buscar a bike, cheguei a casa, preparei a logistica da Maratona, adaptei a bicicleta ao meu tamanho e estamos prontos.

SRP160 - Ultra-Maratona BTT 162 km | 3156 m D+

Dia treze de Abril, sexta-feira, depois de um dia de trabalho e depois de jantar, eu e o Miguel rumámos a Serpa, com o tempo ventoso e chuvoso. Chegámos a Serpa por volta da 22h30, dirigimo-nos ao secretariado da organização e levantámos os nossos frontais e respectivos sacos do evento. O tempo lá nos deu tréguas, cessando a chuva para a montagem da tenda no Parque de Campismo Municipal.

Seis e trinta da manhã, toca o despertador, depois de uma noite chuvosa, estava uma manhã minimamente agradável, apesar do forte vento que se fazia sentir. Tomar o pequeno almoço, preparar o Camelback e lá fomos nós de bicicleta até ao local da partida para efetuar o controlo zero.


Partida à hora marcada, oito da manhã, e começa o desafio. Estradas rolantes, onde facilmente se consegue andar a trinta quilómetros por hora, paisagens fantásticas, com alguma chuva à mistura e muito vento. De salientar a passagem pelo Single Track nas margens do Guadiana e pela sempre espetacular Mina de São Domingos, com os seus tons avermelhados, o seu cheiro caracteristico e a ausência de vegetação, um mundo à parte.


Ao fim de nove horas e sete minutos cheguei à meta com um sorriso nos lábios por ter conseguido terminar aquele desafio e com mais um recorde de distância percorrida em BTT, numa só jornada. Foram 162 km de puro prazer com algum sofrimento, que nos dá no final aquele verdadeiro gosto de superação e dever cumprido. Apesar de ser um desafio pessoal dedico a sua concretização ao Francisco e à Sandra.


Deixo aqui o link para o vídeo da prova, pelo BTT-TV. 
Fotos retiradas do site: BTT-TV

Uma manhã de puro e duro BTT em Monte do Trigo

Seis e vinte da manhã, domingo, dia onze de Março, toca o despertador. Fico deitado mais oito minutos antes de ir para a cozinha tomar o pequeno almoço. Entre as torradas e o café, recebo uma mensagem no telemóvel, o meu companheiro de pedal não estava melhor da dor de garganta e não iria ao passeio.

Às sete e um quarto saí de Arraiolos em direcção a Monte do Trigo, onde cheguei por volta das oito e um quarto. Levantar o frontal, descarregar a bicicleta do tejadilho do carro, preparar as coisas com calma e dirigi-me para a partida, marcada para as nove da manhã.

Estava um belo dia de sol, quente e seco, um dia excelente para pedalar, com muito pó e piso algo duro. Partida à hora certa, posicionei-me mais ou menos a meio de pelotão e lá fui desfrutar das belas paisagens do Alentejo. Meti o meu ritmo, fui fazendo algumas ultrapassagens, até encontrar um grupinho para concluir o passeio. O piso estava duro e muito seco devido à chuva que não caiu, mas as belas paisagens e os odores da flora pelos diversos locais que iamos passando tornavam a passagem dos kms em momentos agradáveis de comunhão com a Natureza.

Tudo corria sobre rodas quando ao km trinta e um, depois da minha bicicleta ter completado oficialmente os quatro mil kms, sou surpreendido por uma paragem repentina dos pedais, no inicio de uma subida, ao que parece no ponto do percurso mais afastado de Monte do Trigo. Ao parar vi as roldanas do desviador partidas e consequentemente este também partiu.

Com uma mochila Camelback tão grande, alguma coisa devia de trazer para remediar a situação. Encosto a bicicleta, tiro a ferramenta e começo por abrir a corrente, depois saquei fora o desviadro moribundo e reajustei a corrente em single speed. Voltei a pedalar, mas a bicicleta continuava a meter mudanças e ao fim de um km fiquei sem conseguir pedalar devido à tensão da corrente. Comuniquei à orgnização a minha situação e o local onde me encontrava, km trinta e dois.

Com uma vista fantástica sobre Portel e enquato esperava pela carrinha de apoio, à sombra de um sobreiro, ao lado de uma pick-up, com música da Antena 3 e com o dono lá dentro que se prontificou a emprestar ferramenta, encostei a bicicleta e meti mãos à obra para tentar solucionar novamente o problema. Abri novamente a corrente sob tensão e voltei a reajustá-la, desta vez no quarto carreto.

Volto a seguir viagem. Mais dez kms percorridos e tudo a rolar às mil marvilhas, recebo uma chamada da organização a dizer que me estão quase a alcançar, ao que eu respondi todo orgulhoso e cheio de mim próprio, que tinha o problema resolvido. Mais adiante, novamente em subida e com o aumento da pressão nos pedais a corrente volta a ficar sob tensão. Olhei para a bicicleta e fez-se luz! "Tiro a roda fora e volto a colocar a corrente no quarto carreto", assim aliviava a tensão da corrente. Tentei mas não consegui, a tensão parecia demasiada e nesse momento fui alcançado pela carrinha de apoio. Lá fui de boleia com o orgulho ferido até ao reabastecimento seguinte a cerca de três km. Pelo caminho ainda resgatámos outro atleta, com um furo.

No reabastecimento, com a ajuda de um elemento da organização, lá conseguimos tirar a roda, aliviar a tensão da corrente e voltar a colocá-la no quarto carreto. Segui viagem mas com o orgulho ferido por ter andado na carrinha de assistência durante três kms. Fiz a subida ao alto de S. Pedro, voltei para baixo e para me penitenciar voltei a subir a parte final, pela segunda vez.

Após a segunda passagem no alto de S. Pedro, lá fui devagar, devagarinho até à meta em Monte do Trigo. Acabei quase ao fim de cinco horas, quatro a pedalar e uma a montar e afinar a minha nova single speed. Acabei com um desviador moribundo dentro da mochila Camelback, mais uns bocados de corrente, com uma bicicleta quase meio kg mais leve e um sorriso nos lábios!